Não é a
primeira vez que me encontro com a garota de vidro. Nem a segunda. Ler pouco,
reler muito, isso funciona para mim. Descobri esse livro em um blog de moças
como eu. Na verdade, eu estava mais interessada em dicas escondidas na
literatura do que na própria literatura. Você sabe. Eles fazem todo o material
para alertar, informar, cuidar, mas a gente também tem acesso. E você sabe como
a gente usava aquilo.
O que mais me
encanta nessa obra é a narrativa. O retrato perfeito que Laurie Halse faz da
mente de Lia. O livro é real, próximo do leitor. A personagem vive em função de
números, da tabela de calorias, da balança que mostra pesos falsos, da que
mostra o verdadeiro. Os fantasmas a assustam, deixando sua mente cada vez mais
confusa. Ela não tem noção da própria imagem, apenas almeja ser sempre menor.
Medo de
engordar, busca pela perfeição, pressões, crises familiares atuais e passadas,
brigas, a morte de sua melhor amiga, pai ausente, madrasta esgotada, mãe
desesperada, ser exemplo para a meia irmã, escola, faculdade, decisões,
psiquiatra, internações, exames, quarto de motel, caos total.
Assim, Lia ganha
rosto, personalidade e o leitor mergulha na degradação de sua mente e corpo. Mas
a autora não te fala essas coisas, ela te mostra. Ela tenta fazer você enxergar
pelos olhos da anorexia. E como já senti na pele o que é ser uma garota de
vidro, nem morta, nem viva, mas presa entre os dois mundos, só posso dizer que
ela consegue.
Essa história
mostra o poder de destruição de um distúrbio alimentar na vida de uma
adolescente e sua família. Mostra as dores, as feridas que não secam, a
necessidade de perdoar e ser perdoado. Mas também mostra a possibilidade de superação.
O que a doença tentou tirar pode ser salvo com amor, paciência, força de
vontade e uma equipe preparada.
Lia não morre,
e aqui deixo meu spoiler. Mas isso não me impede de pensar em todas as outras
garotas (e garotos) que já morreram ou estão morrendo. E por isso indico o
livro. Para você que sofre com transtornos alimentares, direta ou
indiretamente, ou para você que não dá muita importância ou nunca ouviu falar
no assunto. Para que vocês saibam que há esperança, que há como dar a volta por
cima. Eu consegui. E Lia também.
Corpo encontrado em quarto de motel, só. Não, Lia, não é legal
quando as garotas morrem.